terça-feira, 4 de novembro de 2008

Implicações do Estrangeirismo na Cultura Brasileira

Enfim inaugurarei meu blog. Espero poder neste espaço expressar todo meu interesse e entusiasmo em relação a cultura popular brasileira, relatando datas comemorativas, festividades populares e um pouco da minha experiência ministrando edições do “Mapeamento do Genoma Cultural Brasileiro” em Encontros de Estudantes de Design pelo Brasil.

Pra começar um artigo que trata justamente da importância da valorização da nossa cultura, principalmente para os designers desavisados...


Em 500 anos de história e miscigenação, o Brasil ainda vive no encalço da sua Identidade cultural. A Cultura européia trazida por Portugal, com toda sua religiosidade e conservadorismo, a africana trazida pelos escravos e cultura indígena, que já existia na ocasião da chegada das primeiras caravelas. Além de holandeses, italianos, alemães e japoneses espalhados em colônias pelo Brasil, somente para citar algumas das mais recorrentes colônias estrangeiras instaladas no país. Todo esse emaranhado cultural faz do Brasil o que ele é, tanto a imagem que exporta, como a que os próprios brasileiros têm de si. Porém, este não é o problema, a questão é que após séculos de colonização e posteriormente o Imperialismo, que predominou sobre os países mais pobres, acarretaram na desvalorização da cultura regional, consequentemente na produção local e na economia nacional. Nesse contexto, é importante que se perceba a importância de políticas públicas e educativas que gerem na população a consciência do quão importante para o país à valorização da nossa cultura, principalmente presentes nos produtos feitos pelas indústrias nacionais e com a cara do Brasil.

Muito antes de se falar em globalização, o brasileiro já era tomado de referencias européias. Até o século XIX nenhuma outra moda poderia ser aceita nos grandes salões de festas da aristocracia brasileira, se não a francesa. Nem as manauaras eram exceções, em plena floresta tropical eram “obrigadas” a se cobrir da cabeça aos pés, com modelos e tecidos franceses que eram importados com o dinheiro do ciclo da borracha. No século XX os americanos exportavam o cinema e com ele o “American way of life”, influenciando a moda, o corte de cabelo, maquiagem, eletrodomésticos, carros, enfim, todo o estilo de vida americano, fazendo de seus produtos sonho de consumo entre homens e mulheres. Nem a chegada da televisão no Brasil na década de 50, com novelas nacionais, onde teoricamente retratava o estilo de vida brasileiro, conseguiu mudar o quadro de tamanha influencia, até porque, o que mais era explorado nas novelas eram, ambientes de luxo, totalmente inspirados nos modelos do cinema americano.

É fácil entender o poder de sedução que esse estilo de vida de consumo e modernidade sobre as pessoas, sobretudo as mais humildes, florescendo nelas um imaginário de esperança de melhorar de vida, e o melhorar de vida é ter uma vida como as de estrela de cinema.

Desde a infância, sem que ninguém perceba, as crianças são inocentemente apresentadas a entretenimentos que não lhes apresenta suas origens brasileiras, ao contrário, as meninas estão acostumadas a bonecas altas, magras, loiras, olhos azuis e de seios fartos. Aos meninos são oferecidos heróis japoneses e animais jamais vistos na fauna brasileira. Os Buffets infantis em sua maioria estão repletos de motivos de princesas Disney entre outros heróis, heroínas ou qualquer outro bichinho engraçadinho que carregue uma bandeira azul e vermelha.

Diante desses fatos, se torna complicado exigir da indústria nacional produtos 100% com a cara do Brasil, sem que antes haja um processo em longo prazo de resgate da cultura nacional em várias estâncias. Por outro lado, a concorrência com os produtos internacionais de baixíssimo custo, como da china, exige das indústrias nacionais uma postura calcada na produção de uma identidade regional própria como diferencial competitivo.

Alguns “produtos” como as havaianas e a bossa nova, são mais reconhecidos no exterior do que no próprio país de origem. As havaianas, mesmo sendo uma febre nacional, precisou primeiro ser reconhecida na Europa, para que depois os brasileiros reconhecessem seu valor.

Outro exemplo de desvalorização dos produtos locais, são as gemas brasileiras como as Águas-Marinhas, Citrino, Topázios e Turmalinas, que hoje são consideradas estrelas da joalheria internacional, mas muitos brasileiros desinformados se referem a essas valiosas pedras como “semi-preciosas”, uma expressão que não é mais utilizada há aproximadamente meio século, ainda assim alguns insistem nela, na tentativa de desvalorizar as pedras preciosas brasileiras, que ajudam a levar o nome do Brasil com soberania pro resto do mundo.

Outra questão que também envolve as gemas brasileiras, é a lapidação, que pouco ou nada explora técnicas com referências nacionais, como já acontece em algumas empresas joalheiras do exterior, que utilizam formas diferenciadas e modernas na lapidação do diamante, como diferencial estratégico.

Uma das propostas de solução para esse problema em logo prazo, são ações educativas, que envolvem desde o ensino fundamental e também principalmente a inclusão de disciplinas teóricas que atentem para este fato nos cursos de Design, já que as escolas são carentes nesse quesito, como conclui o Vice-Reitor da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, Dijon de Moraes, “Existem boas Escolas de Design no Brasil, mas em nível formativo técnico. Pouco existe de reflexão e de análise crítica. Menos ainda existe a inserção de nossa cultura e de nossos valores nos procedimentos didáticos”.

Atualmente, vários outros designers vêm demonstrando interesse nesse assunto, em publicações ou ações, como eventos de design voltados para essa temática, ou com a inclusão dela em alguma das suas atividades. Como o segundo Encontro Regional de Estudantes de Design do Centro-Oeste e Minas Gerais, realizado em Belo Horizonte - MG em 2006, que tinha como tema a preocupação com o resgate das origens mineiras no design, assim como o terceiro Encontro Regional de Estudantes de Design do Centro-Oeste e Minas Gerais, que também buscou no seu tema a ruptura com referências estrangeiras e a valorização da cultura nacional. O quarto Encontro Regional de Estudantes de Design do Rio de Janeiro e Espírito Santo, também tinha essa preocupação em valorizar a cultura regional através do design vernacular.
Não há nada mais disponível para nós, designers brasileiros, do que nossa própria cultura, basta olharmos mais para nosso quintal e menos para a TV, editoriais de moda e os cinemas enlatados que indústria imperialista nos oferece. Enquanto designers, educadores e formadores de opinião não se atentarem a isso, não mudaremos esse quadro.

6 comentários:

DJULE disse...

Em 1999, o 2º Purungo - Encontro dos Estudantes de Design de Curitiba, teve como temática "Design no Brasil. Qual a nossa verdadeira identidade?", estimulando desta maneira a busca por alternativas coerentes com as características culturais do país e adequadas ao meio industrial brasileiro.

Será a busca pela "Identidade do Design Brasileiro" é o caminho? Um país tão diversificado culturalmente precisa desta definição? Seria este um limitador?

manu gomes disse...

a própria diversidade é um caminho para identidade...e também podemos falar do aspecto regional, na Itália por exemplo existem produtos típicos da Sicília e outros de Nápoli e por aí vai...onde designers utilizam do que a natureza oferece (limão siciliano) para criarem produtos de exportação alavancando a economia...

aliás, diversidade está completamente na contra-mão da limitação!

DJULE disse...

Concordo com você sobre a questão da diversidade.

Meu incômodo é com essa necessidade que os designers têm em definir tudo. Parece que são menos felizes por não terem um documento que define o que é design.

É assim também que vem sido encarada a questão da regulamentação. De novo a necessidade de definir - o que o designer pode ou não fazer.

A diversidade é algo que só enriquece a cultura brasileira e é aí que eu questiono a limitação, a partir desta DEFINIÇÃO do que vem a ser a cultura brasileira. Ô mania de ter que definir tudo!

Outro exemplo de regionalismo, fazendo um gancho ainda aos Encontros de Estudantes de Design, é a música. Você volta de Manaus ouvindo músicas de boi e volta de Pirí ouvindo sertanejo.

Isso é lindo!

manu gomes disse...

Em momento nenhum sou a favor da limitação, no que diz respeito à apropriação da cultura brasileira em projetos de design...como disse, a diversidade está completamente na contra mão dela...justamente por ser lindo vivermos num país onde possamos voltar de Manaus ouvindo Boi e de Goiás ouvindo Sertanejo e de Minas ouvindo a melhor música do mundo (hauhauhauah...bairrismo)e isso não tem porque mudar, nem tem que se transformar numa coisa só. Simplesmente chamamos a atenção de que é importante perceber esses "Brasis".

Eu particularmente sou a favor sim da regulamentação porque acredito numa identidade de classe e precisamos sim nos reafirmar e mostrar nosso valor e pra isso temos que nos limitar SIM, assim como todos os outros profissionais que têm seus limites de atuação, pq o designer não teria? Não somos super-heróis, nem donos do mundo (nem da razão) pra querermos fazer tudo, estaríamos entrando na mesma linha crítica que muitas vezes enquadramos publicitários, artistas e arquitetos...

enfim...voltando ao assunto diversidade cultural e identidade...

Em momento algum, nós, defensores da valorização da cultura brasileira e criação de identidades locais somos a favor de UMA ÚNICA IDENTIDADE NACIONAL ou da limitação. Aliás, ninguém ta aqui exigindo que seja de uma forma e proibindo que seja de outra. Tão pouco essa é uma discussão no âmbito do "eu gosto" "eu não gosto" "eu valorizo" ou "ela é chata" (no caso eu). Só queremos chamar a atenção ao fato de que não da mais pra copiar estéticas estrangeiras e ja passou da hora de nós designers explorarmos o que temos de melhor no país em nossas produções.

É uma questão econômica que ja vem chamando a atenção há tempos. Enquanto o Brasil exporta matéria prima num valor X e esta é beneficiada em qqer outro canto do mundo de acordo com a identidade deles (e muitas vezes o Brasil acaba importando o produto), o Brasil poderia exportar o produto num valor 100X com uma característica regional que conceda a ele uma identidade diferenciada que pessoas de outros cantos do mundo reconhecerão e buscarão nele...Assim o País exporta mais, gera emprego e em contra partida a cultura regional é valorizada localmente o que aumenta a auto-estima da população e etc etc etc etc etc...

Ufa...Rule, to adorando poder discutir com alguém, quanto mais eu falo sobre isso mais me convenço que to no caminho certo, portanto não pare de discutir comigo...huahauhauahauh...

DJULE disse...

Concordo com você no que diz respeito à diversidade cultural e não-limitação da mesma.

Não disse também que foi falado em limitar, mas estes questionamentos são normalmente levantados e coube aqui a provocação.

Também levanto a bandeira ao defender nossa cultura e tenho lá (ou cá?!) meus bairrismos - que considero de suma importância.

Cansamos de ver estrangeirismos por aí (eu, pelo menos, canso). Está, mesmo, mais do que na hora de olharmos para nosso país e mostrarmos o que temos (de bom) por aqui.

Aliás, vou assistir filme nacional e depois continuamos com o papo.

manu gomes disse...

isso aí...cinema, música , novela... hahahahha...negócio é buscramos nosssas referencias!!!